Orientação sexual: se escolhe ou se vive?



Imagine-se na seguinte situação: você acabou de iniciar em um novo emprego e está muito motivado para iniciar logo suas atividades. Passa por todo o processo de seleção, faz um treinamento e chega no seu posto pronto para trabalhar e dar o melhor de si. Com o passar dos dias, você começa a perceber olhares enviesados, “grupinhos” que cochicham coisas, “risadinhas” sempre que você deixa algum ambiente, até que alguém mais corajoso chega até você e te faz a pergunta fundamental que saciará toda a curiosidade: “Fulano (a), você é gay? ”

Com essa história hipotética (mas com um fundo de verdade, porque isso acontece e muito) abrimos uma conversa que esbarra em uma questão que permeia toda uma forma de se perceber o mundo: a orientação sexual. Há quem acredite que tal orientação é uma opção: tal qual ir a uma feira livre, na qual você anda por entre as barracas de frutas e escolhe aquela que mais lhe chama a atenção, dá uma mordida e leva 1 kg para casa. Seria muito simples se fosse assim não é?

A orientação sexual diz respeito a atração que uma pessoa sente por outros indivíduos, atração que vai além de pura e simplesmente sexo e pode englobar também a afetividade dessa pessoa. “Sentir”, verbo que isolado nos leva a uma questão muito mais subjetiva e particular de cada ser humano. Prova disso? Pergunte a qualquer pessoa por que ela gosta de determinado sexo (oposto ou igual ao dela) e perceba que não há resposta. No máximo você conseguirá um: “Ah, porque sim e pronto”! A orientação sexual é particular e se desenha nos meandros da sexualidade infantil, com todas as suas manifestações. Não se escolhe ser homossexual, bissexual ou heterossexual: é uma situação natural que se desenha de forma única para cada ser humano! Pense em como isso é belo!

Em 17 de Maio de 1990, a homossexualidade deixa de ser considerada doença pela Organização Mundial da Saúde em seu compendio normativo, o CID-10 (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas relacionadas a saúde), o que marca uma nova era na compreensão da homossexualidade, que não merece mais “tratamento”. Acontece, porém, que, na maioria das culturas (senão todas) são impostas sobre as crianças as maneiras e costumes que ela deve adotar para o seu convívio e aceitação na sociedade.

Fazendo um paralelo com a atual situação que conhecemos, na Grécia e na Roma da antiguidade, era natural um homem mais velho ter relações sexuais com um mais jovem. Até mesmo o filósofo grego Sócrates pregava uma dicotomia entre as relações homossexuais, das quais se derivava o verdadeiro prazer e sabedoria e das relações heterossexuais, que serviam para a procriação. A homossexualidade era “imposta” pela cultura grega e romana até aquela época, pois para terem acesso à educação, os jovens precisavam aceitar a amizade e laços de amor com homens mais velhos, conduta essa incentivada e promovida pelos pais desses jovens. Imagine ser jovem na antiga Grécia e se ver obrigado pela sua cultura a ter relações homossexuais, mesmo sendo heterossexual! Como seria?

Obvio que havia naquela época um sistema cultural e religioso que possibilitava aos cidadãos atenienses e romanos um outro tipo de relação com o seu próprio corpo e suas várias formas de sentir prazer. Quanta diferença dos nossos dias, não é mesmo? Se você nasceu menino, DEVE gostar de meninas e não de outros meninos e vice-versa. Por não levar em conta a individualidade, as questões envolvidas na sexualidade da criança (que já estão presentes e atuando) são tratadas como inapropriadas e, sob o olhar severo do preconceito, se veem obrigadas a adotar ou uma postura de aceitar o que se lhe impõem ou rebelar-se e com isso comprar uma “briga” que pode durar a vida toda!
Tal “padrão” imposto pelos pais, que compõem uma sociedade e que está inserida em um sistema cultural atua no sentido de não permitir o “ser” e nem o “sentir” individual de cada um. Eis o que leva a uma série de complicações e transtornos na vida mental dos indivíduos homossexuais, não serem aceitos pelo que eles realmente são: seres humanos.  A orientação sexual imposta e requerida reflete na verdade o “medo” do não saber lidar com o novo, medo que aprisiona de ambos os lados!

Acredito que com base no acima exposto, o leitor poderá chegar em uma conclusão adequada sobre a orientação sexual ser uma escolha ou não. Há coisas que podemos escolher, outras simplesmente “são”.

Rodrigo Garcia - Psicólogo Clínico. 

Referência bibliográfica
Site: http://guiadoestudante.abril.com.br/estudo/vale-tudo-homossexualidade-na-antiguidade/ acessado em 09/06/2017. 

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