Identidade LGBT: Como Sua Construção Impacta na Saúde e Bem-Estar?



Cada ser humano é único, portador de desejos, vontades e necessidades individuais, tudo isso dentro de um universo particular, exclusivo. Mais do que isso: o ser humano é compreendido dentro de um contexto social, com um conjunto de papéis, valores, habilidades e atitudes que são integrados e formam o homem tal qual o conhecemos.

Essa é a identidade, que é conceituada como sendo a denominação dada às ideias e sentimentos que o indivíduo desenvolve a respeito de si próprio, a partir do conjunto de suas vivências. Ela é a síntese pessoal sobre o si mesmo, incluindo dados pessoais, biografia, atributos que outros lhe conferem, permitindo uma representação de si. (Bock, 2008)

O processo de construção da identidade é algo muito próprio, tal como vimos. Parte sempre do sujeito, de dentro para fora. É um rótulo que nos identifica, sintetiza e nos diferencia uns dos outros. Importante ressaltar que a identidade, a escolha de tal rótulo, parte da pessoa e não do externo: quando a pessoa chega a um grau de autoconhecimento sobre si é que ela pode classificar-se e assumir para o mundo o que ela é, quem ela é! E tudo isso acontece não só para os LGBT´s, mas para a construção da identidade heterossexual.

O que difere e causa muita dor é a “padronização”, a obrigatoriedade e coercitividade com a qual a sociedade (através da cultura) impõe os “padrões héteros” como sendo “o normal e o aceitável”, colocando quem é diferente (por pensar diferente e sentir diferente) em uma situação de isolamento social, que gera além da dor já citada, o preconceito, a estigmatização e a desigualdade.

O “sair do armário”, ou seja, assumir publicamente a identidade LGBT definitivamente não é tarefa fácil, uma vez que por constituir-se em um processo, a construção da identidade pode passar por entraves que podem gerar muita ansiedade no indivíduo LGBT, dada a carga negativa que a cultura enxerga a homossexualidade, bissexualidade e a transexualidade. A ansiedade e o medo decorrentes do assumir-se surgem do fato de que os LGBT´s não sabem como as principais pessoas de seu meio social irão reagir frente à esta notícia, familiares, amigos, colegas de trabalho e vizinhos. E com níveis de ansiedade elevados, a probabilidade de aumento de doenças psicológicas e comportamentos de risco também sobem, por isso a questão da identidade está diretamente relacionada a uma melhor condição de saúde do indivíduo LGBT.

A construção da identidade envolve a compreensão dos papéis sexuais sociais, o reconhecimento das diferenças por conta da sua própria sexualidade, que leva em conta todas as experiencias vividas pelo indivíduo até então e se são consoantes com o sistema sociocultural, aceitação privada da identidade, tolerância identitária e a orientação sexual. Qualquer intercorrência nesse processo (que podemos chamar de incompatibilidade) pode gerar confusão identitária e, o que é pior, a não aceitação pelo próprio sujeito de sua identidade LGBT.

Neste quesito, esbarramos com a homofobia internalizada, que não permite ao sujeito “aceitar-se” tal como ele é, gerando problemas relacionados a saúde mental e sua integridade física, sendo um dos principais entraves no processo de construção da identidade. Vemos tantos casos de pessoas homofóbicas xingando, maldizendo, amaldiçoando, impondo seus ditames e costumes de “pessoas de bem” e chegamos quase que sentir a dor de quem passa por uma situação dessas. Agora, imagine quando é o próprio sujeito que faz isso consigo mesmo ao constatar que ele é diferente! Todo esse ódio desmedido, agressividade voltada para dentro de si: isso que é homofobia internalizada! O indivíduo que não consolidou sua identidade LGBT nesse contexto está propenso a tomar medidas extremas para “corrigir o que está errado”, que vão desde a busca de uma “cura”, assumindo a duras penas uma identidade que não lhe pertence ou o que é pior, atentar contra a própria vida. É muito triste, mas é real.

O que também interfere no assumir-se é a aceitação da família. Se o indivíduo provém de um círculo familiar não tão tradicional, a comunicação da identidade é mais fácil e há maior probabilidade de serem aceitos, o que não acontece com as famílias tradicionais e/ou religiosas. O LGBT tem duas alternativas: ou assume uma identidade heterossexual que não lhe cabe e leva a vida que esperam que ele leve, ou assume-se e enfrenta a família “batendo de frente” com a tradição, o que pode levar o membro “dissidente” a ser posto para fora de casa, esquecido e deserdado do seu seio familiar. Pergunto ao leitor o que você acha que é a melhor coisa a ser feita?

Neste momento decisivo, percebemos a importância dos amigos na constituição da identidade LGBT, porque são nos amigos que essas pessoas vão buscar o que perderam em suas famílias: carinho, compreensão e amor. E é exatamente isso que os LGBT´s precisam! A base de uma sociedade acolhedora e humanitária está na educação, no respeito à integridade e igualdade e na aceitação das diferenças e isso é responsabilidade de cada um de nós.

Autor: Rodrigo Garcia - Psicólogo

Bibliografia:

Bock, A.M.B. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia / Ana Mercês Bahia Bock, Odair Furtado, Maria de Lourdes Trassi Teixeira. 14ª Edição. São Paulo: Saraiva, 2008. 

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